domingo, 25 de dezembro de 2011

"Music is very porreta!"

Hoje vou falar sobre música, já que foi basicamente o que fiz hoje o dia inteiro.
Embora eu seja perdidamente apaixonado por música (ou talvez por causa disso), sou ao mesmo tempo bastante chato em relação a esse assunto. Na realidade, eu peco por não ter a mente muito aberta a certas bandas, bandas essas que sempre acabam me surpreendendo e me fazendo retirar tudo que havia dito anteriormente.
Uma dessas é Pearl Jam, que eu por algum motivo não-inteligente me recusava a ouvir. Até que forçadamente acabei escutando Jeremy, provavelmente a música mais famosa deles, e agora não escuto outra coisa senão esses caras nas últimas duas semanas.
A minha mais recente treta era com a tal da Adele. Chegava até a ficar com pavio curto quando alguém vinha mencionar a moça. Achava que era apenas mais uma das artistas de momento, que logo iria sumir. Afinal, nós somos dosados anualmente com várias e várias dessas. Mas hoje, entediado, mudando de canal na TV, eis que paro em um em que estava passando o novo DVD da moça na íntegra.
E que droga, tenho que confessar. A moça arrebentou com tudo.

Eu li uma das críticas do show, e um indivíduo lá (que infelizmente não me recordo o nome), disse que por vezes esquecia que estava assistindo apenas um DVD já que ele se pegava aplaudindo Adele após algumas músicas. Foi a mesma sensação que eu tive.

Eu gostei muito de ver uma artista se entregando tão profundamente em sua performance (coisa que nós roqueiros já estamos acostumados a ver com muitas de nossas bandas), e principalmente, fazê-lo sem nenhuma frescura. Ela não precisa de espetáculos visuais, de várias roupas extravagantes, de apelo sexual descarado. Nada disso. É a moça cantando e só, e ela consegue fazer um show intenso e tocante. E vê-la chorando após "Someone Like You" (que está tocando em TODO lugar o tempo todo) só me fez admirá-la ainda mais. Só me fez pensar que ela é uma pessoa linda e um ser humano adorável, só espero que eu não esteja enganado.



Mas o que me deixou mais feliz, foi quando fui pesquisar mais sobre a mulher depois do show, e que vi que esse novo CD dela, o "21" é um estrondoso fenômeno de vendas. Sim, contrariando o tenebroso caminho que a humanidade está seguindo, de parar de ouvir os álbuns e começar a ouvir apenas faixas separadas pela internet, esse disco ultrapassou a barreira dos 13 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Isso é de assombrar, já que qualquer um pode consegui-lo na íntegra facilmente, e nem pagar nada por isso. Querem uma comparação? O disco mais vendido de 2010 foi o "Recovery" do Eminem (de quem sou fã, e cujo CD comentei neste mesmo blog), com 5,7 milhões de cópias no mundo inteiro. Menos da metade do que o "21".

Eu sou um ávido admirador de CDs. Não da tecnologia, mas da idéia de pegar um álbum de uma banda ou artista que gostamos, e ouví-lo do começo ao fim. Existem alguns desses álbuns que foram construídos em cima dessa idéia. Como o "Seventh Son of a Seventh Son" do Iron Maiden (todas as faixas giram em torno da lenda do nascimento do sétimo filho do sétimo filho, que teria poderes sobrenaturais) ou o "The Downward Spiral" do Nine Inch Nails (que seguem o rumo de um indivíduo que lentamente abre mão de tudo em sua vida, até atingir um ponto sem retorno nas faixas finais). São os chamados "álbuns conceituais", e eu os considero geniais, apenas por serem assim. Esses dois álbuns mencionados foram um estrondoso sucesso em suas próprias épocas. O do Iron Maiden, lançado em 88, explodiu muito mais no Reino Unido, terra natal da banda. E o do Nine Inch Nails, praticamente desconhecido no Brasil, chegou a vender 5 milhões de cópias só nos EUA, ainda mais seguindo a devastadora performance da banda no Woodstock de 94. Porém, com o avanço das tecnologias, o conceito de ouvir um CD do início ao fim foi morrendo. E aos poucos sendo substituído por Ipods e semelhantes. E assim, os álbuns pararam de vender. Os grandes fenômenos da música, como foi Nirvana com os 30 milhões de cópias vendidas do "Nevermind", ou como foi o Linkin Park com os 24 milhões do "Hybrid Theory", ou o próprio Michael Jackson com os mais de 100 milhões vendidos de "Thriller" estavam destinados ao esquecimento.

Eis que surge Adelle, e em menos de um ano, o álbum da moça alcança a marca de 13 milhões. Sei que pareço estar falando apenas em dinheiro, e em sucesso. E é verdade que para a qualidade musical, isso pouco significa. Mas estou falando de mais do que isso. Estou falando de várias pessoas, milhões no mundo inteiro, realmente parando e sentando para ouvir música, que é uma das grandes maravilhas da humanidade. É isso que considero tão apaixonante ao verificar esses grandes fenômenos. Afinal, poucos se lembram do "In Utero", que considero o melhor álbum do Nirvana. Mas todo mundo sabe qual é o "Nevermind", bem como conhecem praticamente metade do CD de cor. (Pensa que não? Sabe todas as músicas que você, não-fã de Nirvana, conhece da banda? Poizé, são todas desse álbum).

Se trata de uma banda ou artista, criando um legado, que de certa forma uniu várias pessoas, que pararam para prestar atenção. Futuramente, comentarão a respeito, assim como comentam de várias obras que já passaram. Comentarão a respeito de músicas que marcaram época, que os tocaram de alguma forma, que significam algo para eles.

O estrondoso sucesso de Adele apenas serve como esperança, de que a época em que a música ainda tinha a capacidade de ser apaixonante, de ser mágica, de significar algo para muitas pessoas, ainda não morreu. E felizmente, o sucesso veio para um artista tão talentosa quanto essa mulher. (Embora Lady Gaga também represente um pouco dessa esperança. "Born This Way" dela, lançado esse ano, vendeu 8 milhões de cópias, que antes do rolo compressor que foi "21", era considerado um mega-sucesso).

Só é uma pena, que nenhum desses grandes sucessos tenham sido de bandas do bom e velho rock, pelo qual sou perdidamente apaixonado. Afinal, Coldplay e Red Hot Chili Peppers lançaram álbuns esse ano também. Mas e aí?
Coldplay ainda teve seu lugar ao sol, já que as músicas "Every Teardrop is a Waterfall" e "Paradise" foram um bom sucesso, e a banda teve uma épica apresentação no Rock in Rio esse ano. Mas as pessoas baixaram essas músicas pela internet e ficou por isso mesmo. Não que o Mylo Xyloto do Coldplay seja um álbum espetacular, pois não é (nele, o Coldplay é apenas Coldplay. E foi provado que são muito bons em ser Coldplay. Mas também são muito bons quando tentam coisas novas, "Violet Hill" está aí pra provar. Então por que não fazê-lo com mais frequencia?). O CD não chegou nem perto do alvoroço que foi o A Rush of Blood to the Head (que o mundo inteiro conhece 70% de cor).

Já o Red Hot não conseguiu nem isso, nem mesmo com sua apresentação no Rock in Rio. O que é uma pena, já que lançaram um bom CD. Talvez porque padeça do mesmo problema do Mylo Xyloto. Acabaram fazendo apenas mais do mesmo, como se esse novo trabalho fossem apenas faixas para encher setlist. Quando será que eles vão criar algo como Californication de novo? Praticamente todas as música daquele álbum se tornaram fenômenos naquela época. E eles fizeram de novo em 2002, com By the Way.


Talvez a geração tenha mudado, talvez a nova geração não curta muito o bom e velho rock. Mas nunca se sabe. Antes da explosão do rock em 99, com bandas como Limp Bizkit, The Offspring, Red Hot Chili Peppers, Slipknot, Blink 182, dentre outras, o cenário musical era dominado pelo pop com os Backstreet Boys e a Britney Spears (que vendeu inacreditáveis 26 milhões de cópias com seu "Baby one More time").

Será que o rock está prestes a retornar? E com força total?
Não custa nada sonhar!


Valeu!
Pra quem teve a paciência de ler, muito obrigado mesmo!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"A felicidade mora ao lado."

Quando não parece haver nada de bom nos cinemas, você recorre às locadoras.
Período abençoado das férias em que se há tempo para realmente fazer as coisas, resolvi alugar uma leva de clássicos (e alguns não tão clássicos assim) que eu já devia ter assistido, mas por algum motivo ou outro, acabei não assistindo. E eu confesso que estava assistindo-os praticamente no automático, não dando o devido valor a cada um. Até o ponto em que surgiu uma grata surpresa.

Em 1998, um tal de Todd Solondz dirigiu um filme espetacular chamado "Felicidade" (Happiness). Completamente ignorado pelo Oscar (como geralmente ocorre com filmes controversos e difíceis de assistir), recebendo apenas uma mísera indicação ao Globo de Ouro (Melhor Roteiro), que ele perdeu para o superestimado "Shakespeare Apaixonado" (filme que levou sem merecimento algum Oscars que eram por direito de filmes com "O Resgate do Soldado Ryan" e "Requiem Para um Sonho"). Esse "Felicidade" merecia muito mais, já que se trata de um filme genial.

Contanto com um elenco extremamente talentoso, o filme tem um formato que eu particularmente gosto muito. Aquele em que existem vários personagens, com histórias entrelaçadas, e nenhum deles coadjuvante (formato em que Paul Thomas Anderson se especializou, com "Boogie Nights" e "Magnólia"). Centrada em torno de uma família, composta por um casal de idosos e três filhas, a história se desenrola na medida em que se estendem as teias de relacionamentos de cada uma dessas filhas. Uma delas é solteira, constantamente rejeitada, que busca encontrar um parceiro; a outra é casada com um psiquiatra e possui três filhos pequenos; e a terceira é uma escritora desejada sexualmente por vários homens. Com esta base, as histórias passam a se estender. Um dos pacientes do psiquiatra (Philip Seymour Hoffman, SENSACIONAL) tem uma doentia fascinação pela terceira irmã. Ao mesmo ele possui uma estranha vizinha, que parece sempre querer informá-lo de tudo que acontece no prédio. O já mencionado psiquiatra, embora inicialmente se mostre como um homem calmo e sensato, aos poucos passa a revelar sua natureza sombria (que eu não irei revelar, mas acreditem, é pertubador). A primeira irmã, a rejeitada, decide largar o emprego e passar a trabalhar como voluntária para ajudar estrangeiros como professora, que é quando ela se apaixona por um de seus alunos.

Nesta trama, todos buscam a felicidade de uma forma distorcida e sombria, e eventualmente acabam encontrando-a, embora jamais seja o bastante. E se esta história tem um enorme potencial para se tornar um filme extremamente denso, melancólico e pesado, aí está a genialidade de Todd Solondz. Tudo é apresentado de forma irônica e bem-humorada, o que é algo que aparentava ser inimaginável, dada a complexidade dos temas.  Mas o filme de forma alguma suaviza a polêmica. É como se ele constantemente chocasse o espectador, e ao mesmo tempo, risse disso o tempo todo. Uma prova disso é a última cena protagonizada pelo psiquiatra e seu filho, composta apenas por diálogo, mas extremamente difícil de assistir.
O diálogo por sinal, é genial em todos os momentos. Nada soa gratuito, nada está ali apenas para chocar. Tudo é orgânico e parte importante da trama. E merece aplausos por cria uma situação tão paradoxal, de apresentar temas extremamente polêmicos e pesados de forma tão irônica. O elenco inteiro também está impecável, com destaque a Dylan Baker como o psiquiatra, que pegou um dos papéis mais difíceis que existe e o carregou nos ombros como se não houvesse peso algum.

Eu não conhecia este diretor, e agora vi que ele não dirigiu muitos filmes. Mas agora vou procurar esses filmes por aí. Enquanto isso, eu deixo essa recomendação. Assistam esse "Felicidade", pois é um filmaço. Mas deixo também avisado, trata-se uma de obra extremamente pertubadora.

Abraços!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"A menos que você ame, sua vida passará em um piscar de olhos."

Demorei 1 ano para voltar a postar. Aliás mais do que 1 ano.
Olhando agora, eu me surpreendo (e fico muito feliz) ao ver o quanto mudei neste ano.
Coisas boas aconteceram, outras MUITO boas, e outras não tão boas assim.
Mas tudo contribuiu para o melhor. Para uma melhora. Esse é o propósito da vida, não é?

No primeiro post desse blog, eu escrevi sobre o filme A Origem.
Para quem leu o título do blog e sacou a referência, percebeu também que esse filme foi basicamente o motivo de eu começar a escrever aqui. Tamanho filmaço, me deixou sem reação, orgulhoso de ter visto, feliz por estar vivo na época em que ele foi lançado e tudo mais. Na verdade, esta é minha reação toda vez que a arte (a mais brilhante invenção humana) consegue me inspirar, me deixar sem palavras.
A Origem me inspirou a realizar até mesmo mudanças em minha vida, inclusive uma extremamente significativa ano passado. E me inspirou a escrever. Este é o poder da arte, bendita seja.

Mas o ponto que quero chegar é, o motivo de eu ter começado a escrever foi ter visto um filme que me inspirou a fazê-lo. Porém após um tempo, a inspiração passou, coisas aconteceram, e eu acabei nem escrevendo mais. Passou 2011 quase inteiro, e agora no final, a surpresa me atingiu quando vendo na minha barra de favoritos estava meu próprio blog. Fiquei feliz por ele ainda existir. Foi bem aí nesse momento que a inspiração começou a voltar. Decidi escrever sobre o próximo filme que eu visse.

Porém o próximo filme que vi foi a aberração conhecida como "Amanhecer - Parte 1". Não vou nem comentar nada, porque posso querer falar dele mais adiante. Mas raciocinei assim: "não posso escolher um filme tão ruim para servir de pontapé para voltar a escrever". E decidi esperar o seguinte. Porém acabei não dando sorte.

E as férias chegaram. E acabou que o filme que iria me inspirar de vez a sentar aqui e escrever seria um que eu já havia visto no meio do ano. Mas ele foi tão bom (e esquisito) que foi necessário alugar para ver novamente. E assim chegamos à obra-prima chamada Árvore da Vida, de Terrence Malick.



Este é um dos filmes mais assombrosos que já vi em toda minha vida. Ele não possui uma história linear, não possui trama. Não possui início, meio e fim bem definidos. Ele conta a história de uma família em um subúrbio nos EUA, com Brad Pitt como o Sr. O'Brien, pai de família, a (linda) Jessica Chastain como a Sra. O'Brien, a mãe, e seus três filhos. E o filme inteiro se passa sob o ponto de vista de um deles, Jack, interpretado por um jovem ator muito bom quando criança, e por Sean Penn quando adulto. O filme inicia com a notícia da morte de seu irmão, que veio quando este tinha 19 anos. Após mostrar a forma devastadora que os pais recebem a notícia da morte do filho (a de Brad Pitt é de partir o coração), o filme volta no tempo, e mostra várias cenas isoladas. A mãe quando criança, e depois o nascimento de cada um dos filhos. Tudo isso com uma espécie de narração, que em diferentes momentos é feita pela mãe, pelo pai ou pelo próprio Jack. Esta narração não conta a história, mas solta frases por vezes imprecisas, e por vezes profundamente evocativas (falarei sobre isso depois).
E quando tudo aparenta estar caminhando para uma história, o diretor (e também roteirista) Terrence Malick interrompe, e começa a mostrar cenas do surgimento do universo, o Big Bang, a formação dos planetas, o surgimento da vida na terra, a época dos dinossauros e seu fim com a queda do meteoro.

Soou estranho? Acredite, é. Mas Terrence Malick implora que você olhe mais de perto.

Nem adianta continuar explicando a história do filme, porque como já mencionado, não existe história nenhuma. O filme passa um longo tempo mostrando imagens da natureza, das águas de um rio correndo, das árvores, do vento batendo no cabelo dos personagens, destes mesmos brincando na rua, etc. Tudo envolto em uma (EXCELENTE!!!) trilha sonora do compositor Alexander Desplat, e frases que são aos poucos ditas por cada um dos personagens. Você lembra do trailer do filme? Pois então, é aquilo ali, só que com 2h20min de duração.

Ao sair do cinema, em agosto, eu percebi que não sabia nem como começar a escrever a respeito. Eu havia quase adormecido em algumas horas, e cheguei perto de chorar em outras, em cenas que mal era possível entender o que estava acontecendo. A dificuldade para definir o filme era imensa, assim era também a dificuldade de justificar porque eu atravessei uma variedade tão grande de emoções em tão pouco tempo.

Sorte que uma magistral professora minha também assistiu o filme, e basicamente esclareceu tudo.

O filme deixa propositalmente lacunas para nós, que estamos assistindo. E nós temos de preenchê-las com nossas próprias experiências, com nossas próprias lembranças. Ele exige nossa participação, e quando aceitamos entrar nesta viagem, ele nos conduz a vários momentos de nossa vida, momentos marcantes, outro não tanto assim, mas todos significativos.

Foi assim que percebi que enquanto assistia, me lembrei de minha própria infância, de brincar com meus amigos na rua, de jogar bola todo santo dia, de não ter nenhuma preocupação no mundo. Me lembrei dos meus pais sorrindo o tempo todo, cuidando de mim. São seres iluminados que me deram tudo, e continuam me ajudando de uma forma que eu nem consigo explicar. Me lembrei de correr na chuva com meus primos quando era mais jovem, e depois todo mundo indo para casa de nosso avô, tomar o café da tarde. Me lembrei de todos os pequenos momentos em minha vida, momentos tais que estão na vida de todos.
Não se tratam de acontecimentos grandiosos, longe disso. Se tratam dos momentos mais sutis, e talvez por isso, sejam aqueles que mais marcam as vezes. Àqueles em que você está mais dentro da sua cabeça, do que ali de verdade. Momentos de observar a chuva cair. Das tardes e noites junto aos amigos. Do abraço longo e carinhoso da antiga namorada, que por um momento, foi capaz de trazer toda a felicidade do mundo. Momentos de ver o sol se pôr, e de vê-lo nascer.

São momentos que passaram, e muita coisa mudou. Agora estou mais velho, amadureci bastante, mudei. Mas lembro de todos esses momentos, que naquela época podem nem ter significado muita coisa, mas agora me emocionam profundamente, pelo que eles significaram.
É isto que A Árvore da Vida tenta atingir. Fazer você lembrar, levá-lo a uma viagem dentro de você mesmo, e fazê-lo reagir às lembranças. Não é exatamente tarefa das mais fáceis, mas é profundamente recompensadora.

Ao mesmo tempo, o filme traz algo que se faz sentir em toda sua duração: Deus.
Representado como uma luz brilhando na escuridão, em momentos distintos da trama (que o crítico Pablo Villaça, de quem sou fã, e cujos textos sempre leio, definiu tal luz como sendo a "essência da vida"), Deus é constantemente evocado pelos seus personagens. Os personagens o questionam e críticam, se perguntando aonde Ele está. Tudo isto somente para perceber que ele está em todo lugar. Nas árvores, nas águas, no céu, no chão, nas pessoas, nos animais.
O próprio Pablo Villaça diz que se existe algo inegável neste filme é a "opressiva ausência" de Deus. Eu entendo perfeitamente esta opinião, mas sou obrigado a discordar. Se tem algo que tive certeza, é a da presença de Deus em cada uma das cenas do filme. E Terrence Malick conseguiu demonstrar essa força, esta presença, sem a utilização de efeito especial algum. E por isto, o diretor merece horas de aplausos.
O que nos leva a entender talvez, o motivo das cenas mostrando a origem do universo. Com a trilha sonora que "remete ao sacro" (obrigado sr. Pablo Villaça), o filme mostra a origem de tudo. E as imagens são tão belas, os acontecimentos tão milagrosos, e ao mesmo tempo tão precisos, que é impossível que sejam fruto do acaso.
Mas esta é minha opinião. O filme insiste que você crie a sua.
Um filme bizarro, é verdade. É também um dos melhores que já vi.

Só posso dizer, que me sinto grato de ter conseguido extrair tudo isto do filme, e por ter passado por essa viagem incrível. Agradeço sinceramente, por tudo que este filme me fez pensar. E agradeço pela inspiração para voltar a escrever. E espero que essa inspiração não acabe tão cedo.

Um viva à arte!!!!

Valeu, abraço!!


obs.: aqui está a crítica de Pablo Villaça, pra quem quiser ler.

sábado, 23 de outubro de 2010

Uma atividade, embora paranormal.

Alguns posts abaixo, eu comentei rapidamente sobre o poder da sugestão no filme Sinais, do M. Night Shyamalan. Sobre como todo mundo ficou apavorado com os alienígenas embora não víssemos praticamente alienígena nenhum na tela. Sobre como sombras se movendo, ou ruídos eram o suficiente para fazer qualquer um tapar os olhos de medo.
Pois bem, qualquer um que assista um número considerável de filmes de terror sabe que os mais assustadores são os que apresentam justamente essa característica. É banal vermos um fantasma ou monstro fazendo picadinho de alguém. Escroto mesmo, é não sabermos o que aconteceu com esse alguém, permitindo então que interpretemos com a nossa própria imaginação, que por vezes chega a ser mais sombria do que pensávamos. Assim são filmes como Sinais, O Sexto Sentido (ambos do M. Night Shyamalan), A Bruxa de Blair e Os Outros.

Ano passado, um filme me deixou muito feliz (e assustado ao mesmo tempo) de utilizar de forma magistral essa técnica. Se trata do já clássico Atividade Paranormal.
Planejado de forma inteligente, o filme deixa o público se acostumar com o silêncio das cenas noturnas, só pra pegá-lo totalmente desprevenido depois, quando objetos começam a voar, portas batem, retratos se quebram, e pessoas são arrastadas de suas camas. E sempre sem mostrar totalmente O QUE está causando tudo aquilo, o público fica num clima quase insuportável de tensão, já que por já ter presenciado os acontecimentos nas outras noites, ficamos livres então para ficar imaginando constantemente o que acontecerá em seguida, e como eu disse, as vezes a nossa imaginação consegue ser macabra.
E não bastando isso, o filme por vezes SUPERAVA nossas expectativas (como na cena final, que fez o cinema inteiro pular de susto ao mesmo tempo).

E esse ano chega a esperada continuação. "Esperada" no sentido de "é claro que os bacanas lá iriam querer ganhar um pouco mais de grana e então fizeram mais um filme".
Pois embora esse tenha sido o motivo inicial para a continuação, a verdade é que o filme é uma agradável surpresa, por jamais parecer uma desculpa para ganhar dinheiro. Muito pelo contrário, apresenta uma história convincente e que se encaixa perfeitamente com a história do original. E ele se mantém tão bom quanto o primeiro também. O que é sempre um enorme mérito.


Família composta de pai, mãe, filha adolescente, bebê e cachorro se muda para a casa nova, e após sofrer o que aparenta ser um arrombamento que deixara alguns cômodos da casa destruídos, o pai resolve instalar um sistema de segurança que é composto de várias câmeras espalhadas estratégicamente pela casa. E com essas câmeras, podemos acompanhar tudo que passa a acontecer com essas pessoas.
Perceba que é um fiapo de história, mas que não soa gratuíto ou falso. Ainda mais quando ali pela metade do filme, aparecem os personagens do primeiro filme, e descobrimos a relação dos mesmos com a família desse filme. Tudo faz sentido no contexto, o que já é meio caminho andado para ganhar o público.

A outra metade se trata da maneira que o filme desenvolve sua trama e seus personagens. E ele o faz de maneira excepcional em ambos os casos.
Os 20 min iniciais servem apenas para passarmos a conhecer e nos identificar com os personagens. O que é importantíssimo para que sejamos levados a temer pelos seus destinos mais adiante. Claro que o fato dos realizadores utilizarem um bebê e um cachorro, dois seres que despertam a simpatia imediata do público sem nem fazer esforço, chega a ser maldoso. Mas acredite, funciona que é uma beleza.
Já que uma vez que começamos a ver os brinquedos presentes no berço do menino se mexendo sozinhos, imediatamente somos tomados por no mínimo, nervosismo e receio pela criança.

As cenas noturnas, se inicialmente não mostram nada demais, aos poucos vão levando o público à loucura, já que as mesmas vão ficando cada vez piores e mais intensas. E cada vez que uma nova cena durante a noite tem início, o público imediatamente fica tenso, temeroso, sempre atento para uma sombra se mexendo no canto da tela. Isso o deixa vulnerável, já que em dado momento se torna impossível imaginar o que vem a seguir. E quando o susto vem, ele vem com tudo e sem pedir licença.
E além do mais, você pensa que como no primeiro filme, as assombrações ocorrem apenas a noite? Pois pense de novo. =D

Porém, ao contrário do primeiro também, esse filme possui algumas falhas.
Para começar, seu ritmo está meio estraho. Se no original, as cenas foram montadas de forma brilhante, justamente para levar o público a ficar cada vez mais e mais assustado à medida que a história segue, aqui elas as vezes são separadas por longos períodos sem acontecimentos marcantes. Temos uma cena tensa que faz todo mundo ter um ataque do coração, para logo em seguida ocorrer uma bem menos tensa, quase que decepcionante. E após isso, outra cena, porém nessa nada acontece. E quando a tensão total volta, o estranhamento já foi sentido pelo público, coisa que o original simplesmente não permitia.
E o seu final, que poderia ter sido mais eficiente. Mas nesse caso, não comentarei para nem ter chance de estragar nenhuma surpresa.

Palmas para os realizadores por terem mantido o bom nível do primeiro filme, e sobretudo por ter tido respeito o suficiente pelo público para pensar numa história interessante, e o mais importante, CONVINCENTE.

Valeu!






domingo, 17 de outubro de 2010

O sistema é f*da, parceiro.

Depois de mais de duas semanas sem postar, estou de volta.
Semana meio que tumultuada, só arranjei tempo (arranjei na marra) na sexta para assistir a continuação do nosso glorioso Tropa de Elite, de 2007.
Tudo bem que a essa altura, o país inteiro já deve ter assistido. E isso não é um exagero tão absurdo, quando se analisa que 1,2 milhões de pessoas assistiram ao filme só no fim de semana de estréia, se tornando a melhor abertura para um filme nacional de todos os tempos (só para comparar, a ex-maior abertura era de Chico Xavier, desse ano, com pouco mais de 500 mil pessoas, menos do que a metade da abertura de Tropa 2). E as sessões até agora não pararam de esgotar, nem vão parar tão cedo. Para você que não vê nada demais nisso, saiba que estamos diante de um fenômeno cinematográfico. Isso simplesmente NÃO acontece.

Vou confessar, que antes de assistir a essa continuação, eu estava esperando apenas mais do mesmo. Bope tocando o terror na bandidagem durante 2 horas de filme. Eu teria ficado satisfeito com apenas isso (todo mundo teria, na verdade, como prova a popularidade do primeiro flme). Mas Tropa 2 não apenas me surpreendeu ao seguir um caminho bem diferente, como me deixou tenso e inclinado em direção a tela durante toda sua duração. E pelo visto o mesmo aconteceu com todos os outros que tavam na sala, já que o filme foi aplaudido (até de pé, por algumas pessoas), após a sessão.
E merecidamente. Se trata de um golaço no ângulo, feito pelo cinema nacional. Nunca vi um filme brasileiro tão bem dirigido, bem atuado, bem escrito quanto esse. 
Sim, meu caro. Tropa de Elite 2 deixou o filme original no chinelo.

Vou tentar descrever o mínimo possivel a história do filme, já que as reviravoltas aparecem aos montes. E é muito melhor se surpreender vendo a tela grande do que esse blog. (se é que você ainda não viu o filme).

Devido a uma operação mal realizada no começo do filme, Nascimento, agora 15 anos mais velho, acaba saindo do Bope. Mas ao perceber que o mesmo é considerado um herói por parte da população, o governador do Rio de Janeiro lhe dá o cargo de Subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro, responsável por usar câmeras e grampos para combater o crime. Com isso, ele usa seu poder para transformar o Bope numa máquina de guerra, e consegue acabar com o tráfico e crime organizado nas favelas. Mas eis que aqueles de fora, que lucravam com o tráfico, acabam descobrindo outras maneiras de ganhar com o crime. E assim começam a surgir as Milícias nas favelas, que além de comandar o local, transformam o mesmo num enorme curral eleitoral.

Pareceu complicado? Pois isso é apenas uma gota no oceano de informação que é Tropa de Elite 2. Contando com um roteiro simplesmente brilhante (escrito por Bráulio Mantovani, o mesmo do primeiro filme e de outro clássico do cinema nacional, "Cidade de Deus"), o filme joga informação atrás de informação sem jamais subestimar a inteligência de quem está assistindo (algo que também elogiei em "A Origem"). Além de que os acontecimentos e reviravoltas se mostram perfeitamente plausíveis (as vezes, até dolorosamente possíveis). Contando com um final realmente destruidor, o roteiro talvez seja o maior responsável pela altíssima qualidade do filme.

Mas de nada adiantaria um excelente roteiro, se não houvesse um bom diretor. E José Padilha é um excelente diretor. Comanda sequencias de ação de maneira segura. Utiliza a câmera tremida de maneira comedida, sem jamais deixar as imagens confusas demais. E seu estilo é responsável por criar uma intensidade explosiva em praticamente todas as suas cenas (intensidade que já estava presente no primeiro filme, e no seu documentário "Ônibus 174 ").

E o elenco dispensa comentários, na verdade. Boas atuações são lugar-comum no cinema brasileiro (nós temos atores e atrizes sensacionais). Mas aqui, estão todas imersos em seus personagens. Destacando, óbviamente o trabalho impecável de Wagner Moura como Nascimento. Exibindo uma postura curvada, os ombros cansados, e um olhar triste, o excelente ator mostra incrível compreensão de seu personagem. Observe como por mais que evite explodir diante de qualquer pessoa, a insanidade furiosa de seu personagem acaba se mostrando novamente, ao dar uma dura em Matias, exibindo uma autoridade agressiva que o caracterizava antes, mas que agora permanece escondida.

Além de ótima diversão, o filme consegue nos fazer pensar. E muito. Mostrando que as coisas não são tão simples quanto parecem (o fato do Sistema se recuperar e se adaptar a cada porrada que toma é verdadeiramente assustador, pois afinal, qual é a solução então?).
Absolutamente nenhum país vai entender o filme tão bem, nem ter um carinho tão grande por ele, como nós brasileiros temos. Nascimento é ídolo justamente por realizar aquilo que nós sempre sonhamos realizar. Dar um basta em tudo isso. Bater de frente. Enquanto nós nos sentimos acuados frente a apavorante realidade do país, Nascimento levanta um enorme dedo do meio para toda essa confusão. 

Tropa de Elite 2 é uma experiêcia de lavar a alma. Tanto para os amantes do bom cinema, quanto para nós brasileiros, que temos a oportunidade ver alguém finalmente fazendo a justiça por nós. Mesmo que seja apenas por algumas horas, em um filme.

Não assistiu ainda? Tá esperando o que?

Valeu!
Abraços.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Brighter than a thousand suns

Toda banda tem seu álbum divisor de águas. Aquele que os fãs mais respeitam, que os críticos elogiam e usam como referência para os próximos trabalhos, e mesmo quem não é familiar com a banda ao menos já ouviu falar.
O Red Hot Chili Peppers teve o "Californication". O Nirvana teve o "Nevermind". Metallica teve o "Master of Puppets" (e posteriormente o Black Album), o Iron Maiden teve o "Powerslave" e o System of a Down teve o "Toxicity", só para citar alguns exemplos. Nenhum desses exemplos mencionados se trata de um álbum de estréia.
Pois o Linkin Park, que todos conhecem, conseguiu lançar um divisor de águas logo no seu CD de estréia, o 'Hybrid Theory", de 2000.
Na época, todo mundo ficou fã da banda. De fato, com 12 faixas, todas ótimas e grudentas, além de contar com uma curtíssima duração (tinha pouco mais de 30 min, o novo do Iron Maiden tem duas faixas a menos, mas tem 1h27min, só para comparar) o CD caiu nas graças do público, que o tornou o segundo álbum mais bem vendido da década passada (atrás apenas do álbum "1" dos Beatles) e lançou hits eternos como "In the End", "Crawling" e "One Step Closer".
O sucesso e as turnês foram tamanhas que a banda só arranjou tempo pra gravar um novo álbum 3 anos depois, lançando então o "Meteora", em 2003, outro que foi elogiado, e que obteve um sucesso colossal, (considero o Meteora o auge dos caras).

E nessa época, eu estava na época em que "odiar modinhas" era bacana. Sendo um fã de metal, como sou, assim que vi simplesmente TODO MUNDO gostando do LP, deixei de dar atenção à banda. Fazer o que, todo metaleiro tem a sua fase xiita, pode ter certeza.
Quatro anos depois disso, agora em 2007, eu já uma pessoa diferente, que já gostava de reggae, e já abria a mente para outros tipos de música sem problemas, vi que o Linkin Park havia lançado um novo álbum chamado "Minutes to Midnight". E quando ouvi, eu fui um dos poucos que gostou do CD imediatamente. Linkin Park havia definitivamente amadurecido seu som, contando músicas bem construídas como "No More Sorrow" e a sensacional "Bleed it Out" (minha favorita deles até hoje), além de algumas baladas.
Havia um viés mais político na banda também (por exemplo, o título Minutes to Midnight faz referência ao famoso Relógio da Guerra Fria, em que quanto mais próximo da meia-noite, mais próximo estaríamos de um conflito nuclear, que também serviu de referência para a clássica "2 Minutes to Midnight" do Iron Maiden).

 A banda some mais uma vez, e só reaparece esse ano com o álbum "A Thousand Suns", que tive o prazer de escutar essa semana.


À primeira ouvida, o CD soa bastante estranho. Pra começar que as guitarras estão praticamente inexistentes, coisa impensável considerando que LP se caracteriza com uma guitarra pesada em quase todas as suas músicas. Existem aqui várias vinhetas (cinco, para ser mais exato) além da primeira faixa que serve apenas de introdução. O primeiro single da banda, "The Catalyst" tem quase 6 minutos de duração, o que é muito em se tratando de Linkin Park.
Minha reação inicial foi basicamente pensar "mas que porra é essa?". Mas após uma segunda, uma terceira e até uma quarta ouvida, estou começando a desconfiar que se trata de um dos meus álbuns favorito dos caras (quase chegando perto do insuperável Meteora).
Contando com um tom um tanto apocalíptico em suas letras, o CD abraça o tema "fim do mundo" sem medo. A primeira faixa, "The Requiem" é uma introdução de 2 minutos em que uma voz distorcida feminina canta "Deus salve a todos nós/ queimaremos nas chamas de mil sóis/ pelos pecados de nossas mãos/ pelos pecados de nossa língua/ pelos pecados de nosso pai/ pelos pecados de nossos jovens", que emenda logo em seguida com a vinheta "The Radiance", que se trata do famoso discurso de Robert Oppenheimer, criador da bomba atômica (aquele do "hoje me torno Morte, tornei-me o destruidor de mundos").

Além do mais devo chamar atenção para esse detalhe. As faixas não estão separadas, elas se fundem umas com as outras. No final de uma, já estamos ouvindo a introdução da próxima. Portanto, A Thousand Suns é um ÁLBUM que deve ser conferido na íntegra, pois suas faixas separadas perdem bastante do seu impacto.

A primeira música de verdade é a terceira faixa, "Burning in the Skies". Aí se espera que ela exploda num som insurdecedor de guitarras e berros do Chester Bennington (vocalista), certo? Pois a banda toma exatamente o caminho inverso e inicia com uma balada. Com letras apocalípticas, sim, mas ainda assim uma balada, com aquele relativamente manjado, porém verdadeiro, tema da humanidade responsável pela própria destruição ("estou nadando na fumaça das pontes que queimei/ (...) estou perdendo aquilo que não mereço").

Outra característica interessante aqui é que as vozes do Chester e do Mike por vezes se misturam e não dá pra saber quem tá cantando. Mike, que antes cantava só a parte rap das músicas, agora aprendeu a cantar bem e rivaliza até mesmo com o seu parceiro vocalista em faixas como a sensacional (e melhor do CD) "The Catalyst". E só sei que ele canta boa parte dessa música porque vi no clipe oficial lançado, já que as vozes estão por vezes difíceis de distinguir.

Muito gente vai torcer o nariz para esse CD, e com motivo. A banda dá uma mudada considerável em seu estilo, e além disso, se trata de um disco particularmente difícil de escutar. Exige, sem dúvida, mais de uma escutada. Já que mesmo após eu ter ouvido umas 5 vezes o CD inteiro, ainda assim encontro coisas novas que não tinha percebido. É justamente por isso que considero esse o trabalho mais corajoso e interessante do Linkin Park, além de que como eu disse, provavelmente se tornará um dos meus favoritos em breve.

Eu fico muito feliz por essa banda, que considerei apenas uma modinha a 7 anos atrás, se apresentar hoje como uma das bandas mais interessantes e relevantes do (infelizmente) decadente meio musical atual.
Parabéns pros caras. Que venha outro ainda melhor que esse.

Valeu!

obs.: o título do cd, "A Thousand Suns", vem de um texto hindú, que Robert Oppenheimer citou, e tornou famoso, ao descrever a bomba atômica:
"Se a radiação de mil sóis explodisse ao mesmo tempo pelos céus, seria como o esplendor do Todo Poderoso."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Dead Men Walking

Conhecem a definição de um "filme cara-de-pau"?
Se conhecem, vão perceber que os três primeiros (e agora esse quarto) Resident Evil se encaixam perfeitamente nessa categoria. Todos ruins, mas todos tão divertidos em sua ruindade, em sua palhaçada, que acabam fazendo todo mundo assistir o próximo que sai, mesmo assim. O primeiro foi esculachado quando saiu (inclusive por mim), e até hoje já revi aquele filme várias e várias vezes. Mesma coisa com o (péssimo) segundo e com o terceiro.

Agora, eis que sai mais um capítulo da divertida série, agora com a novidade de ser em 3D, e com o retorno do diretor do primeiro filme, Paul W.S. Anderson (que apesar de só ter dirigido aquele, escreveu o roteiro de todos os outros, inclusive desse quarto).   



Só que dessa vez, o 3D não tá aqui só de enfeite. Ele tem um propósito para estar ali.
Antes de assistir ao filme, comentei com uma amiga que provavelmente não veria nada demais nesse 3D, já que os outros filmes que assisti no formato funcionavam até bem melhor sem a tecnologia, sem mencionar que chegava a dar dor de cabeça de assistir.
Pois agora, eu alegremente retiro o que eu disse, já que esse provavelmente foi o melhor uso de 3D que vi no cinema até agora.

Ao contrário do que acontecia em O Último Mestre do Ar, que foi convertido para o 3D de última hora, esse Resident Evil foi pensado desde o começo (e filmado) no formato, assim como Avatar foi.  E isso fica evidente na tela, já que o 3D é realmente sensacional. Aliás é tão sensacional que dá até pra esquecer os absurdos que vemos na tela. (como na inacreditável e hilária cena em que um personagem chuta um imenso caco de vidro em direção a um cachorro. Você vai entender quando assistir).   

A história segue exatamente de onde acabou o terceiro filme, com Alice acordando os seus clones e rumando em direção à central da Umbrella Corporation (responsável por o soltar o T-Virus que dizimou grande parte do planeta). Na realidade, é difícil detalhar a trama sem entregar uma ou outra surpresa, então basicamente, você terá que se contentar com essa sinopse canalha mesmo. =D

Como é costume nas produções envolvendo a série, os efeitos não tão lá essas coisas (embora estejam bem melhores aqui do que em qualquer um dos três filmes anteriores), e o diretor parece estar simplesmente maravilhado com os efeitos 3D que conseguiu capturar  com suas câmeras.
Sério, quase metade do filme está em câmera lenta, com chuva caindo, ou balas voando, personagens dando piruetas. Funciona uma hora ou outra, mas eventualmente acaba ficando só hilário e sem propósito.
A cena inicial, na chuva, por exemplo. Belíssima de se ver, mas sem motivo algum. Afinal é todo um suspense para um fato totalmente comum em todos os filmes. Ou a cena da colisão de um helicóptero contra uma montanha logo no começo, em que a cena congela no momento da colisão somente para acompanhar seus passageiros no ar dentro da nave. É realmente uma cena linda e cristalina, mas não serve pra porra nenhuma.
E já que falei quase o tempo todo do 3D até agora, vale avisar logo que sem essa tecnologia, esse filme não é NADA. As três dimensões aqui não aumentaram a experiência do filme, elas SÃO a experiência completa. Acompanhar a luta contra entre Alice, Claire e o Executioner (o monstro grandalhão de 2 metros e meio com o machado grande do cacete) dentro de uma sala com água caindo por todos os lados é maravilhosa em três dimensões, mas a experiência provavelmente será praticamente nula no 2D, já que mais uma vez a cena é atolada de câmera lenta, e com respingos e a arma do monstro voando em sua direção.

Milla Jovovich, a atriz principal.
Que dizer dela? Além de estar aqui linda como sempre, ela ainda se mostra completamente confortável e natural no papel da Alice. Ela realmente convence como uma mulher durona, capaz de eliminar vários inimigos sem dificuldade, sem precisar parecer arrogante ou exagerar na expressão de raiva. Aliás, Milla permanece absolutamente carismática mesmo quando tá metendo tiro na cabeça de dezenas de zumbis.
É interessante notar também como ela mantém a voz rouca na primeira metade do filme (natural, pois sua personagem acabara de passar muito tempo sem falar nada, apenas buscando seus amigos), porém se não me engano ela mantém essa rouquidão até o final, então não sei se essa sacada dela foi intencional.

Esse é um filme que é simplesmente à prova de críticas, já que ele jamais se propõe a ser mais do que ele é.
Muito pelo contrário. Como eu disse antes, ele abraça desde o começo sua natureza de canalha.
Se trata, portanto, de um filme honesto em suas intenções, coisa que poucos filmes são hoje em dia.

A sessão em que eu e alguns amigos assistimos tava lotada, com o público caindo na gargalhada o tempo todo. É exatamente assim que esse filme tem que ser assistido.
Acredite, fica bem mais bacana.

Valeu!

Obs.: foi realmente bacana ouvir a música "The Outsider", do A Perfect Circle, no filme. Mesmo tando remixada. Além de ser uma das minhas bandas favoritas, essa é uma de suas melhores músicas.